Crédito da foto: Imagem de homem tocando acordeão, gerada pela Inteligência Artifical do Discord
Ouve lá da rua um homem
Que saiu da Paraíba longe
Pra fazer nome e dinheiro,
Levar pra casa um monte!
Ele tocava velho acordeão;
Desejava ser músico massa!
Mostraria para toda a terra
Valor do seu humilde baião.
Ele andava por todo lugar
Junto ao som do seu povo.
Mas ganhava pouca prata.
Mal podia comer um ovo!
Queria ser um artista igual
Os que via na Rede Globo!
Tinha fé que iria conseguir:
Ele era forte que nem lobo!
Ele veio ao Rio de Janeiro
Pensando ser hospitaleiro.
Contudo, ao vê-lo inteiro,
Faltava atirá-lo ao bueiro!
Não sabia o passo a se dar
Para virar cara importante!
Esperava o milagre baixar
Pra fazê-lo um impactante!
Diria o valor da sua gente
Que a mãe Paraíba criava!
O rebento bravo e valente
Que com desdita navegava.
Seria homem rico, de fama…
Ia viver o sonho que tinha!
E cuidar de todos que ama,
Dar orgulho a sua mãinha!
Por ora, ele não tinha casa;
Comia e dormia aqui e ali.
Ficando onde era possível,
Grato a Deus por isso aqui!
Sentia uma falta dos filhos…
Criancinhas quando partiu!
Iria colocar eles nos trilhos
E pensariam que nem saiu!
Por que é que tinha que ter
Desejo quase inalcançável,
Que o levara para tão além
Só e sem a família amável?!
A mulher teve medo de vir
Pelo tiro, mofi e violência!
Por ela, seu marido ficava,
Porém acreditava no porvir…
Entendia muitíssimo mais.
Amava ele muito! Demais!
Preferia-a em seu caminho
Ao velho acordeão vizinho…
Tudo parecia uma mentira…
Esses tempos de vida feliz…,
Visto o quanto a mente diz
Que ela nunca nem existira…!
Não estava ali para provar
Verdadeiras suas palavras.
Quem sabe era um delírio
Do que ele queria por trás…
Vivia tempos tão solitários
Que só uma coisa era real:
Os sentimentos visionários
Que trazia o Deus tão leal!
Era só o que podia esperar
Daquele vazio dentro dele!
Rápido retornava a buscar
Algum significado pra ele…!
Um dia falava alta a fome.
Ansiava buchada de bode!
Porém o chapéu sem nada
Chamava-a miolo de pote!
Mas, a levantar pra arribar,
Viu no chapéu tanta grana
Que não conseguiu pensar
De tanto que fome engana…!
No restaurante nordestino,
Avexado comeu um prato
De carne de sol, desatino,
Até que recebeu um trato!
Houve confusão no recinto
E bateram-lhe com o cinto,
Denunciado por tal mulher
Que comia sem um talher!
Era certo que as prega era,
Mesmo sendo a baita fera!
Os policiais vieram à tona
Acudir ao pedido da dona.
Ele provou lá na delegacia
As notas com que ia pagar.
Mas não havia democracia
Por com um cara aparentar.
Jogaram-no numa cela fria
Que se tornou seu novo lar.
Ficou mais só do que antes
Sem ninguém pra o ajudar.
Ia perecer sem poder dizer
Um adeus e um “Eu te amo!”
A todos a quem ele não via
Há meses ou bem um ano!
Naquela prisão, perder-se-ia,
Porque as paredes falavam
Que as loucuras contavam
De gente que ele não tinha.
Agora apenas a Lua amiga
Por sua janelinha o vigiava;
A única que ainda escutava
Triste som que ele cantava…
Julho/2023
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