Sentado no ponto de ônibus,
Ele reparou sua antiga escola
E encheu seu peito de amor
Ao ver rolar no campo a bola.
Os dias de ouro em que tudo
Era sonho, lágrima e riso
E notas vermelhas e amigos
Despertavam franco sorriso.
Dentro do muro sagrado,
A vida era simples e calma
E a ilusão lhes garantia
Apenas uma feliz alma.
Havia ataques, havia briga,
Havia toda a guerra política.
E o fantasma do corpo vivo
Desconhecia feita cantiga:
Professores eram maus,
Controlavam os alunos!
E os que sabiam educar
Resistiam o importuno.
Junto a atos, ruas e gritos,
Ele crescia teimoso orgulho
E esquentava seu coração
Lembrar gostoso barulho.
Hoje, era diferente coisa:
Trabalhador, responsável…
Muito lhe era dispensável.
Ele arranjou até uma noiva!
Mas não esqueceu da vida
Que trazia antes no bojo.
O que viveu e aprendeu
Levava pra além do estojo.
E, agora, o que restava?
Havia um significado?
Por que ele ponderava?
Quiçá estava amargurado?
Não, não se arrependia.
Conhecia o seu caminho.
Era mudado, era outro!
Saboreava doce espinho.
Mas a nota pura e sentida
Do entre-mundo que virá
Traz saudosa sina contida
De um tempo que chegará:
Ele não era lá nem cá,
Nem menino, nem rapaz:
Era o átimo de um segredo
Pra que o verbo é ineficaz;
Nuances que unicamente
No momento se pode ver,
Já que não dá para tecer
O universo de uma mente.
Vasculhou, assim, o destino
Daquela estranha versão;
Quis conhecer o tal menino
Que o encarava da escuridão.
Ele era ponte pr’ um mundo
Que não era, é nem será;
Era quem ele se tornaria
Se honesto fosse no fundo.
Lá não havia nome ou corpo,
Nem contrato ou aliança,
Sequer algum espaço-tempo,
Pois era tudo confiança.
O juízo daquele rapaz
Não entendia o que via,
Pois era muito para quem
A matéria tanto seguia.
Ele afobava satisfação
Não poder adolescente
Na escola despertar
Nobreza inconsciente!
Mas ela não quis ceder,
Posto era fase seguinte
Pra tão infantil ouvinte
Que nem ia lhe agradecer.
Junho/2023
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